sábado, 27 de dezembro de 2008

ENTREVISTA CURTA COM ARISTIDES - PIAUÍ

Graduando em História pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Um dos organizadores da Mostra não competitiva “A Diagonal Não Ofende Ninguém” e da “Mostra de Cinema Marginal”. Pesquisador na área de história-cinema, focando estudos na produção de vídeo experimental pernambucano dos anos 70. Realiza trabalhos com vídeos experimentais e pesquisa teórica de audiovisual brasileiro. Vem desenvolvendo mostras de cinema nacional mensais, com parceria com a Casa da Cultura de Teresina. Atualmente trabalha no projeto “Um palhaço degolado nas veredas da tradição”, no estudo da obra audiovisual “O Palhaço Degolado” (1976), filme pernambucano de Jomard Muniz de Britto.



CM – Como foi que você se interessou por Cinema?

A - Meu interesse vem basicamente da academia, quando inicio uma série de leituras em torno do cinema marginal piauiense na década de 70 no curso de História, trabalho realizado por um grande amigo Jaislan Monteiro, desde dessa experiência em 2006, fui à busca de aprofundar mais na temática e nisso percorri vários teóricos que me “linkaram” em filmes nacionais, pesquiso hoje acervos particulares de filmes nacionais pelo país a partir de intercâmbio e trocas no qual hoje, desde 2006, a partir dessas articulações construí um arquivo de cerca de 330 filmes para expor em mostras nacionais que realizo com um grupo em Teresina: o grupo DIAGONAL.
O cinema pra mim vem dessa obsessão arquivante e apaixonada, para divulgar sempre o cinema brasileiro em eventos audiovisuais na cidade, o que estende meu interesse na produção de vídeos que inclusive, você conhece, pois somos amigos de tela de longa data.

CM – Fale um pouco do movimento cinematográfico do Piauí.

A - Resumidamente: fraco. Para você ter uma idéia, aqui no 16ª FESTVIDEO, evento de repercussão nacional realizado pela prefeitura de Teresina, entre centenas de vídeos inscritos...apenas oito entraram no evento, fora o desastre de um curso técnico de cinema realizado por um “cineasta” local que não se completou por competência questionável, o que desestimula muitos interessados em fazer vídeo na cidade. Mas acredito que com uma autonomia de grupos como o DIAGONAL poderá em longo prazo construir platéia para conseqüentemente gerar produtores audiovisuais, pois acredito em formação de platéia acima de tudo e com isso lutar diariamente pelo incentivo como você faz aí, estimulando atores e videomakers a levantar uma cena audiovisual sólida no Estado.

CM – A Mostra “A Diagonal não Ofende Ninguém”, é diferente até no nome. Fale sobre esse evento e como ele tem se instalado no universo cinematográfico local e nacional?

A - É um evento organizado por estudantes universitários que visa à ampliação do circuito de exibição em Teresina, aproximando mais o público das novidades do curta metragem brasileiro, sem gerar o facismo da concorrência excludente, que separam profissionais e amadores, impedindo a estereotipia de filme “bom” e filme “ruim”, mas apenas que são realizados, das mais diversas formas e desejos. Somos apenas mediadores das atualizações em vídeo que nos são mandados anualmente para as exibições, saindo um pouco do engessamento provocado pelos raros eventos na área aqui no Piauí, elaborando uma nova rota, dobrando as retas e abrindo uma Diagonal que cruze novos canais de criação cinematográfica com um público exigente e crítico.

CM – Quais são seus filmes preferidos e os cineastas que mais admira?

A - O filme mais lindo e trágico da minha vida se chama “Sem Essa Aranha” (1970) de Rogério Sganzerla, um carnaval apocalíptico de mal estar e redescoberta de um Brasil dilacerado pelo cerceamento da criatividade cinematográfica, a decrepitude de um cafajeste tropical em busca dos seus demônios mais íntimos para acelerar o caos nacional. Uma experiência de choque, que rompe a relação espectador-filme em sua radicalização máxima, inesquecível, terrível e belo, aconselho a todos que desejam conhecer esse lado obscuro do cinema nacional.

CM – O que você acha que pode melhorar, no panorama do cinema brasileiro?

A - Posso estar sendo simplista demais, mas no Brasil faltam coisas básicas: circulação, mercado, público e incentivo...mas a felicidade maior é saber de movimentos de expressão que ganham corpo gradativamente como o Cinema Possível, Cinema Livre e outros grupos dispersos pelo país que partem do simples para mostrar que fazer vídeo hoje é questão de criatividade e vontade de fazer, continuemos assim que a longo prazo os traços que desenham o cinema poderão ser outros... e pasmem: nós seremos os responsáveis!

CM - Quem é Aristides por Aristides?
A - Alguém que acredita no cinema brasileiro como instrumento de prazer, sociabilidade e formação crítica, um formador de platéia, mas que a mesma se levante da cadeira e entre na tela.
Para ver e comentar os filmes de Aristides (clique aqui)

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