sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

ENTREVISTA CURTA COM PAULO MAINHARD - CABO FRIO / RJ

Ele faz parte da Taberna de Cinema, editou e dirigiu alguns filmes emblemáticos da cidade de Cabo Frio. No cine mosquito do dia 18 /01, ele será um dos artistas homenageados com o seu belo filme: “Pela Passagem de Uma Grande Dor”, inspirado na obra de Caio Fernando Abreu. Vamos conhecer um pouco mais sobre Paulo Mainhard, nesta entrevista curta.



CINE MOSQUITO – O que te atrai mais no Fazer Cinema?

PM - A força do trabalho coletivo e a sensação forte de estar deixando algo para o futuro. Fazer um filme é uma forma de viajar no tempo.

CINE MOSQUITO – Como você vê o panorama do cinema Latino Americano?

PM - Do cinema latino americano conheço pouco. Acho que nunca na minha vida eu vi um filme feito na Guiana Francesa, por exemplo! Falar de cinema na América Latina é difícil, somos extremamente bombardeados pelo cinema norte americano, inclusive, a maioria de filmes latinos ou de outros lugares do mundo que chegam aqui, vem através das grandes distribuidoras americanas, assim como a produção nacional que consegue sair de nossas fronteiras. Apesar de estar bastante por fora, preciso destacar o cinema cubano e o argentino - quem não viu ainda, veja, são filmes excelentes! Destaco os novos e já clássicos "O filho da noiva", "Plata quemada" e "Nove rainhas". Também "Amores brutos", produção mexicana, esses filmes encontram-se nas locadoras de Cabo Frio, acreditem!! Vale à pena!

CM – Quais os seus filmes e cineastas preferidos?

PM - Cara, a lista é longa. Muitas influências, muito diferentes entre si. De Fellini a Robert Zemeckis (a trilogia "De volta para o futuro" e "Contato" não podem faltar nesta lista).
- ”Ensaio de Orquestra”, “Amacord”, “Oito e meio”, “Noites de Cabíria”, “A Doce Vida” (Frederico Fellini).
- Do Godard destaco “Acossado”, “Weekend à Francesa” e “Alpha Ville” que sempre que eu vejo me dá vontade de pegar uma câmera e fazer um filme futurista sem dinheiro.
- Do Truffaut destaco “Jules e Jim”, “Atirem no Pianista” e “Noite Americana”.
- De Stanley Kubrick é fundamental, essencial, vital: “Laranja Mecânica”, “Dr. Fantástico”, “Lolita”, “2001- Uma Odisséia no Espaço”, “O iluminado”, “Nascido para Matar”, “De Olhos bem Fechados” (Assistam, assistam!!).
- “Volver”, “Tudo Sobre Minha Mãe”, “Carne Trêmula”, “Fale com ela”, “Ata-me, “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Pedro Almodóvar);
- “RAN” e “Sonhos” (Akira Kurosawa);
- “Cães de Aluguel”, “Pulp Ficcion”, “Grande Hotel”, “Kill Bill” (Quentin Tarantino);
- “Morangos Silvestres”, “O sétimo Selo”, “Gritos e Sussurros”, “Fanny e Alexander” (Ingmar Bergman);
- “Antes do amanhecer”, “Antes do Pôr do Sol”, “Waking Life” (Richard Linklater);
- “O selvagem da Motocicleta”, “O poderoso Chefão (trilogia)”, “Apocalipse Now” (Francis Ford Coppola) – Quero fazer um adendo para o filme "Apocalipse de um Cineasta" feito pela mulher do “Coppola”, “Eleanor Coppola”, durante as filmagens do “Apocalipse Now”, é uma espécie de making of que acabou sendo melhor que o filme (por incrível que pareça).
Tenho que confessar ainda uma imensa admiração pelos filmes da Pixar, além da questão tecnológica, a qualidade dos roteiros de Procurando Nemo, Toy Story e Wall-E (Vi este filme ontem, fiquei maravilhosamente chocado!).
- Uma mistura doida: “Ladrões de Bicicleta” (Vittorio De Sica); “Quanto mais Quente Melhor” (Billy Wilder); “Ascensor para o Cadafalso” (Louis Malle); “Requiém para um Sonho” (Darren Aronofsky); “Trainspotting” (Danny Boyle); “Respiro” (Emanuele Crialese); “Juventude Transviada” (Nicholas
Ray); “Quase Famosos” (Cameron Crowe); K-Pax (Iain Softley); “Cantando na Chuva” (Stanley Donen e Gene Kelly); “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”; (Michel Gondry); “Assim Caminha a Humanidade” (George Stevens); “O terceiro Homem (Carol Reed); “Serial Lover” (James Huth); “A
Outra História Americana” (Tony Kaye); “Clube da Luta” (David Fincher); “O Gabinete do Dr. Caligari” (Robert Wiene); “Matrix” (só o primeiro, dos irmãos Wachowski); “À Espera de um Milagre (Frank Darabont); “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante” (Peter Greenaway);
”Mediterrâneo” (Gabriele Salvatores); “Corra Lola, Corra” (Tom Tykwer);
”Edukators” (Hans Weingartner); “Encurralado” (O primeiro e melhor filme
do Spielberg).
- Medo e delírio e Em busca do cálice sagrado (Terry Gilliam)
- O fabuloso destino de Amélie Poulain e O ladrão de sonhos
(Jean-Pierre Jeunet);
- Cidade dos sonhos e Uma história real (David Lynch);
- O garoto, A era do ouro, Luzes da cidade, O circo, Tempos Modernos (Charlie Chaplin);
- Um estranho no ninho e Hair (Milos Forman);
- Os idiotas e Dogville (Lars Von Trier);
- Cidadão Kane e A marca da Maldade (Orson Welles);
- Psicose, Um corpo que cai, Janela indiscreta, Festim diabólico (Alfred Hitchcock);
- “Um cão andaluz”, “A bela da Tarde”; “O Discreto Charme da Burguesia”, O Anjo Exterminador (Luiz Buñel);
- Noiva nervosa noivo neurótico, Todos dizem eu te amo, “Desconstruindo Harry”, “Match Point” (Woody Allen);
- Os inspiradores brazucas: “Diários de Motocicleta” e “Terra Estrangeira” (Walter Salles); O Pagador de Promessas” (Anselmo Duarte) – não deixe de ver este filmeeee!! ; “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Câncer”, “Di-Glauber” (Glauber Rocha); “Ônibus 174” e “Tropa de Elite (José Padilha); “Opinião Pública” e “O circo” (Arnaldo Jabor); Eles não usam Black-tie (Leon Hirszman); “Os Cafajestes” (Rui Guerra); “O Auto da Compadecida” (Guel Arraes); “Benjamim” (Monique Gardenberg); Dois Perdidos numa Noite Suja” e “Navalha na Carne” (Braz Chediak); “Cabra Marcado para Morrer”, “Santo Forte”, “Edifício” “Máster” (Eduardo Coutinho); “Domésticas”, “Cidade de Deus”, “Ensaio Sobre a Cegueira” (Fernando Meirelles); “O Invasor” (Beto Brant); “O Sanduíche”, “Ilha das flores”, “O dia em que Dorival Encarou a Guarda” (curtas do Jorge Furtado); “Narradores de Javé” (Eliane Caffé); “Matou a Família e foi ao Cinema” (Júlio Bressane); “Quase dois Irmãos” (Lúcia Murat); “Rio 40 Graus” (Nelson Pereira dos Santos).
Nossa, é muito difícil resumir a lista. Deixei de fora filmes muito
bons, coloquei apenas os "Top-list" e com certeza me esqueci de
alguns...

CM – Como você vê a questão das novas tecnologias e o Cinema?

PM - O próprio cinema é uma nova tecnologia. Tem pouco mais de cem anos de existência é uma arte historicamente recente. Agora, a tecnologia digital, que está invadindo como um Tsunami, para mim é uma bênção! Graças a ela posso "brincar" de fazer filmes. Quando eu era criança, fazer cinema era coisa de milionário, ou de quem já tinha os conchavos. Agora continua sendo, mas podemos nos iludir empunhando câmeras digitais e editando no nosso computador caseiro, exibindo nossos filmes em festivais, mostras e cineclubes (algumas vezes promovidos por nós mesmos). Tudo bem, não dá pra misturar, afinal a realização em película é muito mais complicada. Outro mundo mesmo, não só pela qualidade da imagem, mas em relação à tensão no set e os profissionais da equipe técnica. Em vídeo, praticamente qualquer um pode pegar uma câmera e fazer um filme. Isso não acontece com um filme em película, quem está ali tem que ter estudo, experiência. Porém, o filme digital é uma forma de furar o bloqueio, de experimentar a linguagem, colocar em prática tudo aquilo que estudamos.

5 – Quem é Paulo Mainhard por Paulo Mainhard?

Putz, isso é fazer um auto-retrato com palavras: Olhos brilhantes; estatura muito alta: pés no chão e cabeça nas nuvens (embora os pés cismem em sair do chão com freqüência). Tenho raízes portuguesas, africanas, alemãs e indígenas, ou seja, um típico brasileiro. Acordar cedo me faz um mal incrível. Meus amigos sabem das minhas loucuras, mas quem convive comigo, no dia a dia sabe das minhas caretices. Adoro revoluções, mas sou extremamente pacifista. Apesar de viver de uma profissão midiática eu odeio a mídia, que se coloca como voz da verdade e as pessoas acreditam! Se eu fosse milionário, com certeza seria mecenas, tenho muito prazer em incentivar o lado artístico das pessoas. Tenho um monstro verde psicodélico urrando pra sair como um alien, mas ele vive abafado, coitado. Pra terminar, nada como Lennon e McCartney para descrever a existência humana: "I am he as you are he as you are me and we are all together." Oh yeah! Rock'n roll!!

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