quinta-feira, 14 de julho de 2016

Alvíssaras, Hector Babenco!

A notícia da morte de Hector Babenco tem impacto profundo na filmografia brasileira, argentina e mundial. Falar deste cineasta, significa percorrer um mundo onde a dignidade é o foco. Sua obra, deixa marcas no coração da gente!

Babenco, talvez o cineasta que mais apreciei a obra...
Minha geração cresceu falando de um dos grandes orgulhos do cinema nacional, o filme "Pixote - A Lei do Mais Fraco", embora Marilia Pêra já fosse um dos grandes nomes da TV e Teatro Brasileiro, foi no filme "Pixote", que ela alcançou a verdadeira notoriedade como atriz de primeiro time. O segredo era um cineasta argentino (a Argentina produz um dos melhores cinemas do mundo). Babenco naturalizou-se Brasileiro  - fez isso antes do Mercosur existir - porque ficou emocionado com nossa realidade e queria transpô-la para a telona.
Talvez seja o cineasta de quem mais vi a filmes. Lembro da emoção que foi, sair do cinema após assistir "Pixote - A Lei do Mais Fraco", o cine Plaza, em Curitiba, estava lotado, numa época em que o brasileiro atingia o auge de sua rejeição ao cinema nacional. No entanto, "Pixote" ficou várias semanas em cartaz e foi, no mesmo ano, o filme de maior bilheteria, batendo, inclusive as produções estadunidenses...
Um filme incrível e inesquecível, adaptado
da obra de um gênio da literatura, o argentino
Manuel Puig.
Prefiro não dizer a ordem de sua filmografia, mas falar da emoção de ter assistido cada um de seus filmes, por exemplo "O Beijo da Mulher Aranha", uma produção brasileira e estadunidense, não só, deu o óscar de melhor ator ao, então, Willian Hurt, como também, consolidou a carreira da atriz Sônia Braga. Mais do que isso, foi um filme que lavou a alma dos prisioneiros políticos. Lembro-me que quando vi este filme, eu estava estava com 20 anos de idade e era 1985, eu trabalhava numa fábrica de lâmina para compensados de assento de cadeira, e convenci um amigo, crente, a ir comigo. Esse amigo, hoje um dos grande teatrólogos de Curitiba, me contou que depois que viu esse filme, nunca mais odiou o cinema nacional e, de quebra, abandonou o fundamentalismo e a ignorância imposta por um certo conceito religioso.
Já em "Brincando nos Campos do Senhor" despertei minha visão em relação aos índios e o que estava acontecendo com a amazônia. O filme, de um pessimismo crítico, era uma produção ousada e mostrava a realidade indígena do Brasil, e, mesmo sendo uma produção capitaneada pelos EUA, era uma visão clara e uma mensagem precisa sobre a invasão das culturas ribeirinhas e amazônidas, pelos pregadores cristãos de linha pentecostal. Um filme avassalador que me fez ver bem longe, tanto que hoje, no Cine Mosquito, nós temos uma cessão especial só para filmes feitos por cineastas indígenas.
Nos anos 90, vi o filme "Carandirú", e fiquei impressionado com a performance do ator Luis Carlos Vasconcelos, que também é palhaço. Mostrando sua profunda vocação para o cinema. Eu já o havia assistido no filme "O Baile Perfumado" , de José Lirio e Paulo Caldas, e estava maravilhado com sua performance no cinema. "Carandirú", embora tenha destacado o ator Rodrigo Santoro, foi também onde vi, pela primeira vez, o glorioso ator Gero Camilo, para mim, um dos melhores e que tive a honra de ver em outras produções e que conheci, pessoalmente, por volta de 2005. 
Enfim, Hector Babenco, para mim, é um dos mais fortes nomes do cinema nacional e latino. Sua obra vai ficar para sempre, e marcou uma época. Hoje, sabendo de sua morte, não poderia deixar de fazer esta homenagem singela a este que foi um monstro sagrado das artes. Espero que as novas gerações não percam tempo e corram para conhecer sua obra. Babenco não só é motivo de orgulho; ele é, também, um archote, desses que brilham nas trevas do mundo injusto que vivemos.

Jiddu Saldanha - Blogueiro

Veja "O Beijo da Mulher Aranha" completo. Recomendo...


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